quinta-feira, 31 de julho de 2014

Metamorfoses - História do meu cabelo parte 1

Há um anos e três meses atrás usei química no cabelo pela última vez. Eu já havia deixado de usar química anteriormente, por motivos religiosos, mas voltei a ela por pensar que relaxar o cabelo trazia mais facilidade à minha rotina, porém anos passaram, eu mudei e o cabelo parecia um "teto para o meu cérebro" como diz Alice Walker, foi assim que decidi parar de vez, foi um ano e dois meses de muita determinação, vontade de desistir, muita pesquisa, dúvidas. Tempo de me ancorar em pessoas que já tinham passado por isso, conhecer técnicas, idéias, ter musas, me fortalecer e seguir. 

Há doze dias fiz o chamado BC, "big chop" ou Grande Corte. Retirei toda química que restava e, enfim, meu cérebro está livre para tomar o mesmo rumo que meus cabelos, que naturalmente crescem pro alto.

Vou contar essa história...

Eu e meu cabelo já passamos por muitas fases. Desde sempre me reconheço como uma pessoa a favor das mudanças. Esse movimento de construir e reconstruir nunca foi novidade pra mim, é algo que prezo e gosto. Assim é meu cabelo.
Até os 12 anos de idade eu nunca havia cortado meu cabelo, depois do primeiro picote, meu primeiro momento de liberdade, eu usava tranças eternas e meu apelido na escola era Rapunzel, imagina...
Estava cansada daquele visual, depois de um ano de convencimento, minha mãe permitiu que eu usasse química no cabelo. Eu sempre sonhei com cabelos cacheados, meu cabelo natural na minha visão da época, não tinha definição, era volumoso demais e não me permitia usá-lo solto. Efeitos do racismo, da falta de informação e da falta de produtos adequados para meus fios. Estamos falando dos anos 90, meninas!!!
Pois bem, a partir da permissão fomos buscar informações, na verdade “desinformações”, afirmaram que pó conta da textura do meu cabelo eu não poderia fazer permanente, que a química do produto não domaria meus fios, assim comecei o martírio do alisamento. Eu queria muito deixar meus cabelos ao vento, ainda não tinha leitura, nem muita informação sobre produtos e a discriminação, que na época nem eu sabia que sofria, gritava em todo salão que eu ia.
Usei alisamento por uns dois anos, o cabelo ficava liso e chapado, mas depois vinha o inconveniente da raiz que crescia depressa demais, obrigando-me a voltar antes do esperado ao salão e agredir meu couro cabeludo que sempre foi sensível.
Aos 15 anos descobri uma cabeleireira que afirmou que eu poderia usar permanente sim e eu fiquei super feliz, porque teria meus cachos sem precisar enrolar “bobs” ou fazer coquinhos. Foi minha primeira transição... como meu cabelo sempre teve bom crescimento, foram só seis meses até cortar e fazer o tal “permanente afro”. Resultado: cachinhos maravilhosos, eu amando, mesmo tendo que enfrentar aquele cheiro insuportável da química que ficava no cabelo por quase uma semana. Mas havia o mesmo problema, o tratamento era de 3 em 3 meses, a raiz crescia rápido e fiava meio desigual. Do permanente afro ao permanente americano, a transição não foi dolorosa, o cheiro da química não era tão ruim, mas era muito caro.  Outro incômodo era que meu cabelo foi ficando fraco, porque a química de ambos os permanentes eram utilizados em todo o fio, o cabelo começou a sofrer com quedas.
Até que dois anos depois de começar a usar permanente, começou uma moda de “super-relaxante”, a química era utilizada apenas na raiz, os cabelos das outras meninas ficavam lindos e esvoaçantes, decidi mudar.
Foi bem difícil, foram sete meses de transição, eu estava no primeiro ano da faculdade e me sentia péssima, mas depois da primeira aplicação o mundo se abriu, foi como ver a luz.
Porém aí está uma questão que nem sempre pensamos, será que a estrutura do meu fio é adequado para aquele tipo de química? Das primeiras vezes, o resultado foi ótimo, mas ao longo dos anos o cabelo não enrolava mais como antes, as pontas iam ficando “espigadas”, meu cabelo não é e nunca foi cacheado, então ele não formava cachos, ficava frisado, chapado, algo não-natural, mas continuei usando a química, porque de todas que conhecia, era a que menos danificava meu cabelo. Com exceção de um pequeno detalhe: pele e couro cabeludo extremamente sensíveis.
A cada visita ao salão, o que acontecia com a peridiocidade de um mês e meio, eu sofria. O produto nem sempre ficava tempo suficiente para “agir” nos fios e era uma loteria, às vezes ficava ótimo, às vezes nem tanto. E assim foram 10 anos. Eu já estava insatisfeita, até que...

Continua...

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