Há doze dias fiz o chamado BC, "big chop" ou Grande Corte. Retirei toda química que restava e, enfim, meu cérebro está livre para tomar o mesmo rumo que meus cabelos, que naturalmente crescem pro alto.
Vou contar essa história...
Eu e meu cabelo já passamos por muitas fases. Desde sempre me
reconheço como uma pessoa a favor das mudanças. Esse movimento de construir e
reconstruir nunca foi novidade pra mim, é algo que prezo e gosto. Assim é meu
cabelo.
Até os 12 anos de idade eu nunca havia cortado meu cabelo,
depois do primeiro picote, meu primeiro momento de liberdade, eu usava tranças
eternas e meu apelido na escola era Rapunzel, imagina...
Estava cansada daquele visual, depois de um ano de
convencimento, minha mãe permitiu que eu usasse química no cabelo. Eu sempre
sonhei com cabelos cacheados, meu cabelo natural na minha visão da época, não
tinha definição, era volumoso demais e não me permitia usá-lo solto. Efeitos do
racismo, da falta de informação e da falta de produtos adequados para meus
fios. Estamos falando dos anos 90, meninas!!!
Pois bem, a partir da permissão fomos buscar informações, na
verdade “desinformações”, afirmaram que pó conta da textura do meu cabelo eu
não poderia fazer permanente, que a química do produto não domaria meus fios,
assim comecei o martírio do alisamento. Eu queria muito deixar meus cabelos ao
vento, ainda não tinha leitura, nem muita informação sobre produtos e a
discriminação, que na época nem eu sabia que sofria, gritava em todo salão que
eu ia.
Usei alisamento por uns dois anos, o cabelo ficava liso e
chapado, mas depois vinha o inconveniente da raiz que crescia depressa demais,
obrigando-me a voltar antes do esperado ao salão e agredir meu couro cabeludo
que sempre foi sensível.
Aos 15 anos descobri uma cabeleireira que afirmou que eu
poderia usar permanente sim e eu fiquei super feliz, porque teria meus cachos
sem precisar enrolar “bobs” ou fazer coquinhos. Foi minha primeira transição...
como meu cabelo sempre teve bom crescimento, foram só seis meses até cortar e
fazer o tal “permanente afro”. Resultado: cachinhos maravilhosos, eu amando,
mesmo tendo que enfrentar aquele cheiro insuportável da química que ficava no
cabelo por quase uma semana. Mas havia o mesmo problema, o tratamento era de 3
em 3 meses, a raiz crescia rápido e fiava meio desigual. Do permanente afro ao
permanente americano, a transição não foi dolorosa, o cheiro da química não era
tão ruim, mas era muito caro. Outro
incômodo era que meu cabelo foi ficando fraco, porque a química de ambos os
permanentes eram utilizados em todo o fio, o cabelo começou a sofrer com
quedas.
Até que dois anos depois de começar a usar permanente,
começou uma moda de “super-relaxante”, a química era utilizada apenas na raiz,
os cabelos das outras meninas ficavam lindos e esvoaçantes, decidi mudar.
Foi bem difícil, foram sete meses de transição, eu estava no
primeiro ano da faculdade e me sentia péssima, mas depois da primeira aplicação
o mundo se abriu, foi como ver a luz.
Porém aí está uma questão que nem sempre pensamos, será que a
estrutura do meu fio é adequado para aquele tipo de química? Das primeiras
vezes, o resultado foi ótimo, mas ao longo dos anos o cabelo não enrolava mais
como antes, as pontas iam ficando “espigadas”, meu cabelo não é e nunca foi
cacheado, então ele não formava cachos, ficava frisado, chapado, algo
não-natural, mas continuei usando a química, porque de todas que conhecia, era a
que menos danificava meu cabelo. Com exceção de um pequeno detalhe: pele e couro
cabeludo extremamente sensíveis.
A cada visita ao salão, o que acontecia com a peridiocidade
de um mês e meio, eu sofria. O produto nem sempre ficava tempo suficiente para
“agir” nos fios e era uma loteria, às vezes ficava ótimo, às vezes nem tanto. E
assim foram 10 anos. Eu já estava insatisfeita, até que...
Continua...
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