sexta-feira, 13 de março de 2015

Transição: mas o que é mesmo isso?


Oi gente!

Vamos esmiuçar o que é isso. Falarei a partir do que aprendi e também do que vivi. Transição é o período intermediário entre a última vez em que usamos química até a retirada total através do corte, que pode ser radical, o famoso Big Chop , BC para os íntimos, ou paulatinamente com pequenos cortes, até o BC. Conceitualmente não há mais o que dizer, mas é importante trazer um pouco sobre as emoções que atuam nesse período que mistura um aprendizado sobre os cuidados com os cabelos, técnicas para estar socialmente apresentável tendo em vista as texturas diferentes dos fios e nossa própria auto crítica diante do que vemos.

Acho que uma das coisas mais importantes a ser confrontada durante a transição e no pós transição é o espelho. O processo de auto-aceitação e a auto estima da mulher de cabelo crespo não é automático. Ainda que, como eu, vc tenha uma militância política, uma pertença religiosa de origem afro, não é automático.

Paira sobre nós toda uma estrutura de desvalorização de nossos cabelos, de nossa cor e também de nossas práticas culturais, religiosas, etc. Toda mulher crespa que está em transição, ainda que não saiba, passou por um processo de desvalorização de si mesma. A mídia, a escola e história não nos oferece modelos para identificação positiva de nossos traços, da textura de nossos fios. Não há produtos adequados para nossos cabelos quando naturais, nem produtos de maquiagem que contemple nosso tom de pele no mercado nacional. Bem, até há alguns, mas não com variedade, mas não que abarque os tons de pele mais escuros como o meu, enfim, muitos são os problemas.
As propagandas  e o senso comum estão sempre associando nossos cabelos com “palha de aço”, chamando nossos fios de “duros” ou ruins” e somos atingidas com isso. Eu falei um pouco sobe esse assunto aqui, quando contei pra vocês a história do meu cabelo. Mas em superação a tudo isso, entramos em transição, procuramos os grupos, blogs, canais do youtube para resgatar essa história e encaramos o espelho, o olhar do outro nos critica, mas no espelho, iremos confrontar esse olhar do outro introjetado em nós. A nossa crítica a partir de um olhar que nunca foi nosso. E como superar isso?

A rede nos ajuda, eleja um grupo, uma blogueira, peça ajuda, desabafe, não guarde pra si essas críticas, todas passamos por esse momento delicado e todas acabamos nos comprometendo a ajudar outras mulheres a serem livres. Nesse processo, a gente aprende a fazer do espelho um aliado, ao invés de procurar defeitos, a gente aprende a compor nossa nova identidade resgatada, com brincos, acessórios, batons multi coloridos e tantas outras nuances que estavam escondidas em baixo da química.

O processo de transição ajuda a nos redescobrir, comprometa-se consigo mesma, faça do espelho seu aliado, recupere o amor por si mesma e não fique sozinha, porque ainda não temos um ambiente que seja favorável aos cabelos crespos e uma sociedade isenta de preconceitos, portanto, se o dia for difícil, conte com as redes para se sustentar e caminhar mais um dia e descubra-se linda.

A transição não termina quando você  
retira toda química do cabelo, ela continua no aprendizado que temos na recuperação de nossa auto estima. Eu que nem gostava mais de tirar fotos, aderi a hastag #vaiterselfiedepretasim. Porque é importante dar visibilidade a beleza que redescobrimos em nós.


Então, permita-se, ame-se, cuide-se e transforme-se na mulher que você quiser ser, mas agora livre de quaisquer amarras.


Beijo da Pretricinha.

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